Abriu as asas e voou. Pôde ver o céu enquanto se afastava dele, rezando pra estar chegando perto. As nuvens ficavam menores. Fechou os olhos, não queria mais olhar pro céu, logo chegaria nele, queria acreditar. E olhou pra dentro de si. Suas dores que não conseguira resolver, as pessoas que deixara pra trás com seu vôo, elas não podiam voar, tinham que ficar. As felicidades que tivera e foram ofuscadas por todas as infelicidades. O que a fez voar... Será que agora, enquanto se afastava do céu, ela ainda tinha vontade de voar? Será que estava plena? Quanto mais descia mais dores deixava pra trás? E queria realmente descer? Ou queria que seu corpo subisse? “Volte! Voe de verdade, me faça voltar!” Não. Não eram asas que ela tinha e ela não estava voando. Ela estava caindo. Não importa, pois ela estava caindo. E levaria mais alguns com ela, com sua falta, com a dor que deixaria.
Lívia Gurgel.