sexta-feira, 27 de maio de 2011

Um olhar entre os dias.

O impacto é quase sempre brutal. Um tapa na cara que te deixa sem reação. Não tem choro. Tem as mãos tremendo, o sorriso bobo no rosto como quem diz "isso é uma piada!". O nó na garganta que só quem já sentiu sabe que é mesmo um nó na garganta, não é modo de falar. Passado o impacto, a surpresa, e já cansada de repetir "não da pra acreditar", vem a tristeza. O choro que parece vir quieto, calado, vai chorando, chorando, doendo. Chorando, chorando, se desesperando. Acho que é mais ou menos assim o primeiro dia. No segundo, você não quer levantar. Você se sente derrotada. Parece que levou uma surra da vida! E levou mesmo! (Como diria meu mapa astral: tendência natural para a encenação = drama. E se eu dissesse que não é drama?) Mas você levanta. Vê sua cachorrinha correndo feliz, se emociona.. e chora. De repente tudo ao seu redor te traz uma imensa vontade de chorar. Você nem ta pensando naquilo (por alguns minutos) mas a tristeza está lá e você simplesmente chora. E há que chorar mesmo. Chorar e se erguer depois. Depois.. sabe aquela tristeza que por alguns minutos, mesmo sem se pensar em nada, você sente? Ela fica ali. É assim o terceiro dia. Parece que aquela dor sufocante vai se anestesiando. Parece que ela vem desgovernada, leva tudo com ela e se choca com sei lá o quê, ficando quieta, tranquila, mas ainda ali. Chorando calada. E aí vem o quarto, o quinto e todo o resto de uma vida que ninguém sabe pra onde vai. Mas vai. Com ou sem você, e já sem você, boy. 
Ps: estou no terceiro dia e ainda repito "não da pra acreditar."
Ps2: Certa vez li que às vezes é preciso dormir, dormir muito. Não para fugir, mas para descansar a alma dos sentimentos.  Durante a primeira noite acordei, estava sonhando com aquilo que não deixava descansar minha alma dos sentimentos. E a única coisa que eu lembro que falei quando abri os olhos foi "Meu Deus, eu preciso parar de pensar nisso, eu preciso descansar!" E dormi. E não sonhei mais.

Lívia Gurgel
(Escrito no terceiro dia, que não é esse em que estou postando)

terça-feira, 17 de maio de 2011

Pálpebras de Neblina.

Fim de tarde. Dia banal, terça, quarta-feira. Eu estava me sentindo muito triste. Você pode dizer que isso tem sido freqüente demais, ou até um pouco (ou muito) chato. Mas, que se há de fazer, se eu estava mesmo muito triste? Tristeza-garoa, fininha, cortante, persistente, com alguns relâmpagos de catástrofe futura. Projeções: e amanhã, e depois? e trabalho, amor, moradia? o que vai acontecer? Típico pensamento-nada-a-ver: sossega, o que vai acontecer acontecerá. Relaxa, baby, e flui: barquinho na correnteza, Deus dará. Essas coisas meio piegas, meio burras, eu vinha pensando naquele dia. Resolvi andar. Andar e olhar. Sem pensar, só olhar: caras, fachadas, vitrinas, automóveis, nuvens, anjos bandidos, fadas piradas, descargas de monóxido de carbono. Da praça Roosevelt, fui subindo pela Augusta, enquanto lembrava uns versos de Cecília Meireles, dos Cânticos: "Não digas 'Eu sofro'. Que é que dentro de ti és tu? / Que foi que te ensinaram/que era sofrer?" Mas não conseguia parar. Surdo a qualquer zen-budismo, o coração doía sintonizado com o espinho. Melodrama: nem amor, nem trabalho, nem família, quem sabe nem moradia -coração achando feio o não-ter. Abandono de fera ferida, bolero radical. Última das criaturas, surto de lucidez impiedosa da Big Loira de Dorothy Parker. Disfarçado, comecei a chorar. Troquei os óculos de lentes claras pelos negros ray-ban - filme. Resplandecente de infelicidade, eu subia a Rua Augusta no fim de tarde do dia Tão idiota que parecia não acabar nunca. Ah! como eu precisava tanto de alguém que me salvasse do pecado de querer abrir o gás. Foi então que a vi. Estava encostada na porta de um bar. Um bar brega - aqueles da Augusta-cidade, não Augusta-jardins. Uma prostituta, isso era o mais visível nela. Cabelo malpintado, cara muito maquiada, minissaia, decote fundo. Explícita, nada sutil, puro lugar comum patético. Em pé, de costas para o bar, encostada na porta, ela olhava a rua. Na mão direita tinha um cigarro, na esquerda um copo de cerveja. E chorava, ela chorava. Sem escândalo, sem gemidos nem soluços, a prostituta na frente do bar chorava devagar, de verdade. A tinta da cara escorria com as lágrimas. Meio palhaça, chorava olhando a rua. Vez em quando, dava uma tragada no cigarro, um gole na cerveja. E continuava a chorar - exposta, imoral, escandalosa - sem se importar que a vissem sofrendo. Eu vi. Ela não me viu. Não via ninguém, acho. Tão voltada para a própria dor que estava, também, meio cega.Via pra dentro: charco, arame farpado, grades. Ninguém parou. Eu, também, não. Não era um espetáculo imperdível, não era uma dor reluzente de néon, não estava enquadrada ou decupada. Era uma dor sujinha como lençol usado por um mês, sem lavar, pobrinha como buraco na sola do sapato. Furo na meia, dente cariado. Dor sem glamour, de gente habitando aquela camada casca grossa da vida. Sem o recurso dessas benditas levezas de cada dia - uma dúzia de rosas, uma música de Caetano, uma caixa de figos. Comecei a emergir. Comparada à dor dela, que ridícula a minha, dor de brasileiro-médio-privilegiado. Fui caminhando mais leve. Mas só quando cheguei à Paulista compreendi um pouco mais. Aquela prostituta chorando, além de eu mesmo, era também o Brasil. Brasil 87: explorado, humilhado, pobre, escroto, vulgar, maltratado, abandonado, sem um tostão, cheio de dívidas, solidão, doença e me-do.Cerveja e cigarro na porta do boteco vagabundo: carnaval, futebol. E lágrimas. Quem consola aquela prostituta? Quem me consola? Quem consola você, que me lê agora e talvez sinta coisas semelhantes? Quem consola este país tristíssimo? Vim pra casa humilde. Depois, um amigo me chamou para ajudá-lo a cuidar da dor dele. Guardei a minha no bolso. E fui. Não por nobreza: cuidar dele faria com que eu me esquecesse de mim. E fez. Quando gemeu "dói tanto", contei da moça vadia chorando, bebendo e fumando (como num bolero). E quando ele perguntou "porquê?", compreendi ainda mais. Falei: "Porque é daí que nascem as canções". E senti um amor imenso. Por tudo, sem pedir nada de volta. Não-ter pode ser bonito, descobri. Mas pergunto inseguro, assustado: a que será que se destina?


Caio Fernando Abreu.


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Grande Caio, como eu gosto de chamar. Como é possível que eu tenha me identificado com o narrador do inicio e logo depois com a prostituta? Digo, com os sentimentos deles. Ou ainda, com o sofrimento. Acredite, eu me sinto como eles nesses versos. E aí eu paro e penso nos versos de Cecília "Não digas 'Eu sofro'. Que é que dentro de ti és tu? / Que foi que te ensinaram/que era sofrer?" 
Nunca tinha lido esse texto, só o trecho: "Depois, um amigo me chamou para ajudá-lo a cuidar da dor dele. Guardei a minha no bolso. E fui." E me sinto imensamente triste quando não consigo fazer isso. Mas quando querer cuidar da dor do amigo mexe na minha, aí não. Aí eu corro, volto, não pergunto, não por enquanto, mas digo que estou lá. Mesmo me sentindo imensamente triste. 


"Dói tanto!" Se é daí que nascem as canções, alguém faça uma canção, por favor!

HappyBDayAnahi [14 de maio]



"Es mi cumpleee!:)mil gracias a todos! Cada mensajito me ha llenado de felicidad! Que la vida les regrese todos esos buenos deseos al triple!"

"Sé muy bien que solo soy un fan de corazón que no te para de soñar cada dia mas. Pero se tambien que entre la multitud alguna vez pudieras ver la luz sobre mi piel para reconocer el amor mas fiel."
Só pra não deixar passar em branco aqui o aniversário dela. Porque eu sou louca por ela. Porque ela é forte. É verdadeira, doa a quem doer. Porque é autêntica, porque nos diz pra sempre acreditar, ter fé e seguir lutando e sonhando. Às vezes a gente precisa de alguém assim na nossa vida. Tenho tantos motivos pra falar do meu amor pela Anahí. Mas essas coisas por mais que a gente tente, não se explicam. Tenho certeza que ela vai continuar recebendo muita luz e muito amor por qualquer caminho que trilhar. HappyBDayAnahi! (L)