quarta-feira, 20 de novembro de 2013

"Dona Help"

“Socorro!”



Quantas vezes te chamamos assim, não porque era teu nome (mesmo sendo), mas porque sabíamos que você sempre estaria ali por nós. Por teus filhos, netos, sobrinhos, irmãos, amigos, desconhecidos. Acho que a tua característica mais marcante, depois da incrível vontade de viver e da fé enorme que a senhora carregava no peito, era a generosidade. Havia também a bondade, o amor ao próximo, o cuidado, o zelo. 


A teimosia. Como não lembrar da teimosia? Era do jeito dela e se não fosse não era de nenhum outro jeito. Quantas secretárias a senhora botou pra correr lá de casa? E a vaidade? Sempre toda arrumada, maquiada, preocupada em comprar uns vestidinhos novos pra ficar bonita. Até o último momento fazendo biquinho pra gente passar batom, mesmo na UTI. 


Como não lembrar de quantas vezes a senhora me falou “Menina, eu te criei, sou sua segunda mãe!” Eu sei, vó. E como sei. Foi você que se preocupou se eu tinha tomado café, almoçado, “merendado”, jantado. Foi você que se preocupou se eu tava abatidinha, amarelinha, se eu ia voltar cedo. Foi você que me botou na cama pra dormir do teu lado quando eu tinha medo, foi você que deixou a Milly do lado de fora porque eu tinha medo, foi você que fez aquele pudim inesquecível sempre que eu pedi, foi você que me ensinou a receita errada de bolo fofo, porque com quase 85 anos você já não lembrava as coisas certinhas. Foi você que teve paciência e continuou me amando na minha adolescência, quando eu não tinha paciência pras tuas dificuldades, pros teus pedidos. Mas você continuou sendo a minha vó, atenciosa, zelosa, amorosa. 


Eu sei que é meio sem sentido escrever tudo isso depois que você se foi, mas me conforta ter te dito que te amo, enquanto você estava aqui. Ter te abraçado, te beijado, deitado na cama ao teu lado e segurado tua mão, mesmo você preocupada, me mandando ir dormir. Acompanhar tuas andanças quando a senhora não podia mais andar sozinha, te ajudar a subir as escadas quando teus joelhos não ajudavam o bastante, ler a bíblia pra senhora quando os teus olhos começaram a “falhar”, aprender a rezar pro anjo da guarda com a senhora.. fazer os chás de noite pra senhora tomar, pedir a benção todo santo dia, não podia faltar. Eu sei que a senhora continuará me abençoando, como sempre fez. São coisas que nada nem ninguém vai tirar de mim. 

Quantas vezes tocou aquele cd do Padre.. nem sei o nome do padre. De todos os padres. Era música o dia todo, era o cd do Pai Eterno, coisas que sempre vão lembrar a senhora, minha vó. Quantas vezes você acordava ouvindo as suas músicas, a casa não podia ficar em silêncio. Agora está.


As dificuldades (gigantescas) que você passou, as dores, as aflições, só você sabe, vó. Mas todos nós vimos e te levaremos pra sempre como o maior exemplo de vontade de viver que nós já tivemos. Exemplo de força, de superação. Mãe, vó, mulher, irmã, Dona Help, Maria, Socorro. Você foi tudo isso da melhor forma que você pôde. Você distribuiu amor e espero que tenha sentido todo o nosso amor por você enquanto você esteve aqui conosco. 


Que você leve toda essa luz e essa bondade pra um lugar melhor, que com certeza precisa de ti.


“Angel divido me cuidas del mal.. sé que camino con tu companía, aun que tu puerta hoy estes mas allá.. Quererte no se olvida.”




18.11.2013 - 23h

domingo, 28 de abril de 2013

Adeus, 19.


Eu quero deixar pra trás com você tudo aquilo que em que eu acreditei e que foi usado contra mim. Eu quero deixar pra trás com você o silêncio frente às injustiças, o medo frente o inesperado, o novo, o desconhecido. Eu quero deixar pra trás, com você, o medo do risco; o medo do toque; o medo da atração; as expectativas exageradas; a falta de segurança e de amor próprio; a incapacidade de compreensão, de doação; a incapacidade de ser e de estar; Eu quero deixar pra trás a espera. Eu quero deixar pra trás a comodidade, a naturalização, a falta de interesse e de questionamento. Eu quero deixar pra trás a falta de clareza. A falta de consideração. A falta de respeito. A intolerância. A desilusão. Os nós. A covardia. A decepção.

Eu quero que as

mentiras

fiquem com você, aí atrás.

Eu quero trazer de você o crescimento, a superação, a determinação, a fé, a força, o foco, a esperança, a bondade, o caráter, a honestidade, os laços (aqueles positivos).

A verdade. A empatia.

O amor. Quem diria, o amor.

Eu quero achar, para além de você, o perdão. O recomeço. O recomeço. O recomeço. O recomeço. A reconstrução. O reencontro.

O perdão. O perdão. O perdão.

Eu quero deixar pra trás, com você...
Eu quero deixar você pra trás.

Adeus, 19.

quinta-feira, 11 de abril de 2013


E então.

No meio de uma música qualquer, de um suspiro qualquer, de um olhar qualquer, de um pensamento, de uma frase. Sim, qualquer. E então, no meio de qualquer coisa, perceber todos os rastros deixados pelo seu caminho, todos os rastros intactos: marcando tudo que você foi, sentiu, quis e não teve, quis e não conseguiu, tentou ser e não foi. E perceber que não quer dar de cara com eles. Com os rastros. Com tudo que perdeu e que ganhou. Ver tudo ali e sentir medo de voltar pra ver.

E talvez, um dia, não se sentir covarde por sentir medo. 

sábado, 23 de fevereiro de 2013

Sobre André

Talvez estejamos todos mais loucos do que André. 
Nós, que sentimos as borboletas em nossos estômagos. Presas. 
Talvez André estivesse apenas... livre. 
Livre ao vê-las saindo de sua cabeça e voando, voando, voando. 
André acabou preso.