“Os seres humanos me assombram.”
Essa frase lateja na minha cabeça
praticamente todo dia. Sempre que vejo uma notícia de algo absurdo que alguém
fez. Quando alguém mata, tortura, destrói, humilha, machuca ou magoa outro
alguém, outro ser, sei lá. Os casos variam de assassinatos a humilhação em
público: em troco de nada, sem razão, sem por que. Hoje, por exemplo, foi isso,
humilhação. Uma pessoa que, sem nenhum motivo, decide gritar pra outra pessoa
que ele não conhece coisas ofensivas e humilhantes no meio de um
engarrafamento. Alguém decide que pode ofender e dar palpite na vida de outra
pessoa que não conhece e que é “ok” gerar esse tipo de constrangimento a
alguém. Bom, primeiro, o que me conforta é que tudo que nós fazemos volta pra
gente. Sim, volta. Esse sujeito irá receber o troco. E não vai ser eu, a pessoa
ofendida ou outra pessoa que viu e se sensibilizou por ela. Vai ser a vida
mesmo.
Mas não há como não se
questionar: o que é que falta, afinal, nesses seres humanos? Falta
sensibilidade pra se importar com os demais? Falta noção pra perceber quando
seu comentário não é bem vindo, não é oportuno e, além disso, é humilhante?
Falta humanidade? Porque, convenhamos, não é, e eu espero que nunca seja,
normal alguém fazer isso.
Pra algumas pessoas essas
situações servem como combustível. Alguma coisa do tipo “vou usar isso como
força pra mudar e não ouvir coisas desse tipo nunca mais”. É bonito, muita
gente muda, nunca mais escuta coisa desse tipo e etc e tal. Mas e as outras
pessoas que estão na mesma situação? Quantas pessoas já escutaram, vão escutar,
vão tentar mudar e não vão conseguir e vão continuar escutando e vão sempre ter
medo de ouvir qualquer besteira desse tipo em um outro engarrafamento qualquer?
Coisas desse tipo poderiam servir de combustível para mim, mas me fazem querer
continuar a ser o que eu sou e mostrar que não – você não pode me humilhar,
humilhar qualquer outra pessoa porque você acha que pode. Porque não importa
quem sou, como estou vestida, qual é o meu peso, qual é a minha cor ou minha
preferência sexual: ninguém pode opinar sobre a minha vida no meio de um
engarrafamento ou em qualquer outro lugar me causando constrangimento e dor.
Não, ninguém pode. E não é com a mudança das pessoas que foram ofendidas que os
malditos donos-do-mundo vão ser silenciados. Sempre vai existir outra pessoa
para ser constrangida e humilhada por esse tipo de gente que goza gerando dor
nas pessoas.
Quando eu mudar alguma coisa em mim vai ser
porque eu quero. Porque eu sinto necessidade. Não porque alguém gritou que eu
devia fazer tal coisa. E eu espero que algum dia esse grito volte e todos vocês
– que ofendem e humilham outras pessoas por razões que na verdade não são
razões e não são motivos – possam um dia encontrar noção, sensibilidade e
humanidade. Seria um bom começo.
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