quinta-feira, 26 de janeiro de 2012

Em má companhia.

            Dizem por aí, não sei mais se por costume ou por realmente acreditarem nisso, que o tempo ajuda. Aquelas velhas frases que usamos para consolar alguém. Bom.. Quase dois anos, no fim das contas, fizeram alguma diferença. Coração mais calmo. Quem sabe até mesmo aberto para novas experiências. Ok, não tão aberto assim. Mas sei que com os dias, semanas e meses, aprendi como seguir. Aprendi que certas coisas precisam ser adormecidas e isso se faz aos poucos. Não ouvir determinadas músicas. Não ficar parada no tempo relembrando boas memórias: durante algum período a única coisa que isso vai fazer é machucar. Ainda estou nesse período. 
            Mas acho que o tempo me ajudou. Coração mais calmo, sabe? Ou talvez isso seja o que eu repito pra mim e pra você. Talvez sejam apenas aparências, e elas costumam enganar. Eu SEI que dentro dele, do meu coração, há um turbilhão. Insatisfeito, incapaz de aceitar, inconformado, magoado, agoniado. Peguei tudo isso, juntei com as memórias e trancafiei tudo. Não me permito pensar. E faço isso porque quando me permiti tudo isso veio a tona e descobri que ainda estou nesse período em que dói se lembrar e eu perco as rédeas. Não me permito pensar e até me acostumei com isso. Foi a única forma que achei para continuar, a cada dia, seguindo. E a cada dia que terminava, abria a porta e jogava lá dentro a dor daquele dia, logo em seguida fechava outra vez.
            Não se engane. Não estou abrindo essa porta até hoje para jogar essas malditas dores diárias lá dentro. Eu disse que o tempo me ajudou. Ele foi generoso comigo. Raramento abro essa porta pra jogar alguma dor. Mas sei tudo que já foi jogado lá. 
            O único problema nisso? Guardei o amor que sentia lá dentro, junto com as dores e memórias. Deveria ter deixado ele fora. Ele deveria ter ido embora. Mas não. Guardei ele e só me dei conta agora. E agora eu não sei como deixá-lo ir. E confesso: tenho medo de deixá-lo ir. É como uma companhia. Fiz do que trancafiei em meu coração os meus companheiros diários. Sabe quando você decide andar com más companhias, traidoras, que te apunhalam pelas costas na primeira oportunidade? Fiz isso. Escolhi fazer dessas memórias perigosas, dores e desse amor que deveria ter ido embora as minhas companhias, ainda que trancafiados. Escolhi companheiros errados para guardar aqui dentro. E o pior de tudo é que temo o dia em que estiver sem eles. Me seguro naquilo que mais pode me machucar.
           Porque tudo isso foi o que um dia me fez tão feliz.


                                                                                   Lívia Gurgel

4 comentários:

  1. Saber o que se guarda é bom, fazer escolhas também. O importante mesmo, é que TU sabes porque fez isso, nada nessa vida (além da morte) pode ser considerado definitivo.

    Saudações!

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  2. Essas más companhias darão lugar para as boas Companhias, se joga um pouco, mesmo que com um pé atrás, ou até mesmo os dois, mas se permita sentir outras emoções, se um dia tudo isso te fez feliz, hoje não faz mais, o importante é passar um remédio na dor e renovar a alma. Ja to seguindo seu Blog, obrigado pelo comentário e visita lá no meu !

    Beijos.

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  3. http://paraneura.blogspot.com/ o meu blog, gostei do seu vou acompanhar!amantes de uma mesma palavra!

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  4. Que tudo! Me identifiquei com cada linha e é bem isso aí mesmo, acabamos guardando junto com o que nos fez mal, aquilo que mais nos fez bem e por ter deixado tanto tempo, o medo de soltar é maior que a dor que ainda pode ser sentida. Muuito bom!

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